Estamos todos cansados com a situação do covid-19 e as suas consequências.

Estamos preocupados com a nossa saúde, com a saúde de quem amamos, com a nossa saúde financeira e, ainda, a mental. Todas estas preocupações levam a um cansaço que, muitas vezes, nos retira discernimento em alturas de conflito familiar.

Nesta fase, podemos optar, por diferentes formas de o resolver e ter em conta algumas ESTRATÉGIAS.

1. Mantenham a vossa rotina diária de trabalho, desde o horário para levantar, aos cuidados de higiene pessoais, à toma do pequeno almoço, às horas de saída! Na pausa para café, liguem aos colegas para manterem o momento conjunto. Não prolonguem o horário se tal não for apenas extremamente necessário, vai começar a colidir com as vossas rotinas pessoais, conjugais e familiares se assim for.

2. No caso de trabalharem no mesmo espaço que o vosso cônjuge e ouvirem as reuniões, telefonemas ou interações profissionais do parceiro, não profiram comentários que não tenham um teor construtivo ou elogioso. Não estivéssemos nós nesta situação e não teríamos acesso a essa mesma informação (na verdade, também não é suposto termos!). Em última análise, elogiem a sua performance profissional e não se percam no teor do conteúdo em causa.

3. Dividam tarefas, mais do que nunca! Agilizem procedimentos, sejam pragmáticos, estruturados, sobretudo, se ao teletrabalho tiverem que tomar conta dos vossos filhos. Por exemplo, ao jantar, cozinhem “a mais” para que, no dia seguinte, o almoço não seja um problema e que o nosso amigo “microondas” permita ganhar tempo para o nosso “almoço romântico” ou em família. Se estamos a trabalhar em casa, continuamos com o mesmo tempo para almoçar e não para cozinhar. Façam um quadro de tarefas diário ou semanal, em que consigam ter uma noção clara de quem faz o quê para que a nossa casa continue um espaço organizado, limpo e de promoção à nossa saúde física e mental.

4. Mantenham o vosso tempo individual. Pode ser mais curto mas é necessário que não se perca. Dentro das limitações que estamos a vivenciar, é importante que cada membro do casal mantenha a sua individualidade com investimento de tempo para si.
Costuma encontrar-se com a mãe de um amiguinho do seu filho? Liguei-lhe! Pergunte se ela esta a conseguir dar conta da “escola virtual”, partilhem dúvidas e angústias parentais como já acontecia anteriormente.
Tinha uma festa de anos? Use o zoom, uma plataforma em que várias pessoas podem estar ao mesmo tempo em video-chamada e celebre à distância como com muito aconchego.

5. Façam um regresso ao passado em que ansiavam e prometiam querer passar “todos os minutos da minha vida ao teu lado”. Estando “obrigados” a isso neste momento, recordem o que vos fazia gostar de passar tanto tempo ao lado da pessoa que escolheram para companheiro(a) de vida. O que vos fazia feliz nesse tempo conjunto? Conseguiremos adaptar esses tempos ao nosso tempo? Quando se queixavam da falta de tempo, o que foram deixando para segundo plano em termos conjugais e que agora poderiam ter tempo para, efetivamente, passar para primeiro plano?

6. Envolva-se no mundo conjugal. Não podemos ir ao restaurante, ao cinema, ao estádio de futebol… mas podemos adaptar tudo isso ao nosso lar e manter esses momentos. Queríamos ir comer francesinha? E se a fizéssemos a dois, em casa? Se rentabilizássemos o tempo a envolver-nos mais no “mundo do outro”, nos seus interesses e aprendessemos coisas novas com o outro? Estamos dispostos a novas aprendizagens? A investir nos interesses e nas necessidades do outro? A cozinhar, a jogar videojogos…? Tínhamos jantar de família? Vamos ligar a webcam. Estamos disponíveis para saber mais do outro? Estamos interessados?

7. Não invista no jogo das comparações. A vida dos outros nas redes sociais é o que quisermos que seja, depende da perspetiva que o outro nos quer oferecer e da forma como queremos olhar. Não compare a sua relação “olha como eles aproveitam a pandemia para namorar e nós…!”. Não olhe para o lado, olhe para dentro, trabalhe para dentro e não para a rede social. O que queremos mudar está dentro de casa, não vale a pena procurar a solução no exterior que, afinal, nem sabemos como realmente é.

8. Deixe-se influenciar. Ouça a opinião do outro sem a considerar como um ataque ou crítica. Permita-se pensar no que o outro lhe diz. Não quer dizer “anular-se”, quer dizer “permitir que eu veja que o outro, ainda que pense de forma diferente, pode estar preocupado com o meu bem-estar e querer ajudar”.

9. Distribua elogios. Crie uma esfera ambiental positiva. Seja generoso. Cultive a ternura e a estima, o afeto, o carinho. Preste atenção e valorize o amor do outro, diga-lhe que o está a sentir.

10. ESCUTAR, deixei a estratégia mais importante para o fim. Ouvir verdadeiramente, como todos os sentidos voltados para aquilo que o outro nos está a expressar. Neste momento, podemos estar preocupados com muitas coisas mas tempo tempo para perceber o que é que o outro está a pensar e a sentir. Mas para que isto suceda temos que estar interessados e dispostos a receber essa informação na íntegra, explorando-a de forma livre e não dirigida para onde a queremos levar. Não se esqueça de utilizar o não-verbal. E, sobretudo, não se esqueça de respeitar. Reconhecer que o outro é diferente de nós ajuda-nos à sua compreensão e permite que o outro se expresse sem se sentir julgado ou condicionado. Ah, e não se esqueça que um início “macio” e não “áspero” de um conflito pode mudar, absolutamente, todo o seu desenvolvimento. Comece devagar! 😊

Não se esqueçam que a intimidade conjugal se constrói através da comunicação, comunicação essa que, muitas vezes, é necessário descodificar, pois é constituída por mensagens, sinais, comportamentos não-verbais que podem provocar… ruído e interpretações erradas face ao comportamento do outro! 

Por fim, dizer apenas que o confinamento não tem que ser uma fase difícil, aliás, estas estratégias podem aplicar-se em muitas outras fases de uma relação que não apenas o contexto pandémico. Eu costumo dizer “os alicerces colocam-se no início”. Se eles tiverem no sítio certo, bem sólidos, o confinamento é só mais um obstáculo que aprendemos a gerir graças a estes pilares fortes em que nos assentamos.

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Lídia Oliveira

Lídia Oliveira

Apaixonada pela Psicologia no geral e pela conjugalidade em particular.

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