Afinal, “qual foi a conta que Deus fez”?
1+1 = 3
1+1+1 = -2

Um amor incondicional pode trazer consequências para o amor conjugal? Mas como pode o três ameaçar o dois? Como pode um projeto de vida tão desejado trazer tantas implicações para a díade que estava tão sólida e unida neste propósito?

A transição para a parentalidade é um dos maiores desafios pelos quais um casal pode passar. Precisamos de tempo para todo um novo mundo por descobrir. É certo que para uns será uma transição normativa enquanto que, para outros, pode afigurar-se como uma tarefa difícil devido a todas as mudanças inerentes a esta fase, como os cuidados com a criança, a divisão das tarefas domésticas, o relacionamento com a família e os amigos, o tempo individual que cada membro da díade necessita, entre tantas outras.

A chegada de um filho pode colocar em causa um sem número de coisas! Os corpos mudam, a vida pessoal e financeira sofre reviravoltas, as prioridades alteram-se, os papéis redefinem-se, a responsabilidade conhece uma nova definição, o tempo esvai-se. E como temos menos tempo, comunicamos menos, dormimos menos, temos menos privacidade, menos ‘liberdade’. E no meio de tantos “menos”, o casal poderá também ser e viver “menos” na relação. Aqui, confronta-se com duas possibilidades: reconhecer-se neste novo seio familiar e (re)descobrir o caminho para junto do seu cônjuge ou afastar-se para outros trilhos.

Menos distância «» mais contacto vs. mais afastamento «» menos relação.

Por vezes, tudo parece mais importante nas nossas agendas: o filho, o trabalho, o ginásio, as compras… e, quando temos mais disponibilidade (se é que a temos), deixamos uma brecha para os passeios, para as conversas, para o piscar do olho, para a mão na mão, para a sedução. Mas será suficiente?

Lembrar apenas que podemos ser óptimos pais e, surpreenda-se (?), óptimos amantes em simultâneo. É certo que nem todos teremos quem nos arrume a casa, nem todos teremos ordenados para colocar os filhos nas atividades extracurriculares que nos permitem ter mais tempo para nós, nem todos teremos a retaguarda familiar que possibilite a ida ao cinema ou a um jantar romântico. Mas certo é que todos os casais têm a possibilidade de investir na sua relação com menos desculpas e mais investimento naquilo que realmente desejam. Se pensarmos em todos os contextos da nossa vida compreendemos a existência de um equilíbrio entre “os mais” e “os menos” em cada um deles, que cada um balança com mais ou menos queixas, com mais ou menos acções, com mais ou menos vontade para seguir determinados caminhos e escolher uma direcção.

O cansaço, por vezes, parece obrigar-nos a escolher o caminho mais fácil. Ninguém o pode julgar. Um filho dá trabalho! Uma relação dá trabalho, o amor dá trabalho, a felicidade dá trabalho! Mas nada do que vale a pena é conseguido sem esforço, não acha?

Apesar de todas as dificuldades inerentes à transição para a parentalidade, eu acredito que 1+1=3. Também acredita?

Lídia Oliveira

Lídia Oliveira

Apaixonada pela Psicologia no geral e pela conjugalidade em particular.