A conjugalidade implica autoconhecimento. Conhecimento sobre si, sobre o outro, sobre a sua relação, sobre as suas necessidades e as do outro; implica permitir a sua autonomia e a do outro, ter coragem para pedir (e aceitar) ajuda e para ajudar o outro, ter a capacidade de discordar e de tolerar, estar disponível para aprender com experiências anteriores e para enfrentar os problemas, não recear assumir-se como principal protagonista da sua história e de dividir o protagonismo na história que quer escrever em conjunto. Parece trabalhoso? E é! E não serão as “coisas” mais difíceis e mais trabalhosas também aquelas que mais valorizamos? Que valem mais a pena?

Depois desta breve reflexão, voltemos aos “segredos” da conjugalidade…

6.Uma relação é como um barco a remos. 

Dedicação, investimento, atenção, apoio. Tudo isto deve ser mútuo. Pode empenhar-se mais e mais na sua relação mas e se o seu companheiro não o fizer? É como num barco a remos, temos que remar para o mesmo lado, ninguém se pode esforçar mais do que ninguém, caso contrário o barco começa a andar aos círculos. Há pouco tempo, no âmbito do meu trabalho, um jovem dizia-me “namorar dá muito trabalho e dores de cabeça!”, e eu concordo sobretudo com a primeira. Exige esforço e empenho, envolvimento e solidariedade, energia e valorização, entusiasmo e altruísmo. Sem espanto, já em 1999, Gottman e Silver nos referiam a importância do culto e estima recíproca, de caminhar no mesmo sentido, do casal se deixar influenciar mutuamente, de se virarem um para outro. Se um estiver mais cansado, o barco pode andar mais devagar, o outro pode ajudar um pouco mais com a sua força para que o barco não pare mas não se esqueça de que, para navegar verdadeiramente, os dois devem saber qual a direcção a tomar e, sobretudo, querer segui-la.

7.Não leia pensamentos. Comunique! 

É certo que a linguagem não-verbal nos permite, muitas vezes, a leitura emocional do outro. Mas não confundamos a leitura de expressões com a leitura de pensamento. Podemos achar que já sabemos o que se passa “quando fazes aquela cara” e que o outro também deverá saber. Mas a mesma expressão significa sempre o mesmo pensamento e a ocorrência do mesmo problema? Por exemplo, quando se encontra em dificuldade e não quer falar do que o atormenta, faz a “expressão do costume” e espera que o seu companheiro o perceba, que é como quem diz, que leia o seu pensamento e adivinhe o que se passa. E aqui as expectativas podem ser defraudadas. Para que tal não aconteça deve comunicar, conversar, explicar o que está a sentir de forma a que o seu companheiro possa compreender o que se passa e dar o conforto de que necessita. Por outro lado, também pode não se querer ouvir o que o outro tem para dizer com receio de lidar com a diferença, por se achar que “vai ser mais do mesmo”, por se esperar que seja o outro a tomar a iniciativa do diálogo. Mas é neste ponto que desenvolvemos a nossa intimidade, no conflito, na aceitação, na revelação, na confiança, na validação. Não basta falar ou ouvir, não basta conseguir ler o não-verbal do outro, é preciso comunicar, comunicar verdadeiramente de forma a conhecer o outro e a permitir que o outro também o conheça. Comunicarem das mais diferentes formas oferece a possibilidade de serem íntimos aos mais diversos níveis.

8.Tome decisões com base em motivos positivos. 

Gosto particularmente desta expressão “Não prometa quando estiver feliz, não responda quando estiver com raiva, não decida quando estiver triste”. Irritação, nervosismo, aborrecimento, vergonha, indiferença são emoções que originam, por vezes, decisões ou comportamentos que não correspondem ao que, posteriormente, gostaríamos de ter dito ou feito. Tome decisões com base em emoções positivas, certamente com um maior discernimento, segurança e leveza, diminuindo o risco de impulsos e de arrependimentos à posteriori. Tome decisões com serenidade, com clareza, de forma plena, assentes em bases positivas. Não se esqueça de que quando tem a cabeça muito quente, o coração pode ficar mais frio…

9.As palavras vão mas a emoção fica. 

Nos últimos meses, como foram os conflitos que teve com o seu companheiro? Como se sentiu nessas discussões? Do que se lembra melhor? Alguns estudos demonstram que as pessoas até podem esquecer-se dos motivos da discórdia mas têm muito mais presente o tom da discussão e os sentimentos que ela suscitou. O mais provável é lembrar-se da atmosfera emocional da discussão mesmo depois de se ter esquecido das razões que a originaram. Lembre-se que se ambos derem prioridade aos sentimentos um do outro ao invés das queixas pessoais de cada um, certamente que no futuro as memórias dos vossos conflitos serão bem mais positivas.

10.“Desculpa”, “obrigado” e “esqueci-me”, as vezes que forem necessárias. 

Sei que poderíamos acrescentar mais algumas, estou certa de que cada casal terá as suas “palavras mágicas”, mas estas três parecem-me cruciais. Cruciais porque desarmam qualquer frase que comece com um tom presumivelmente acusatório: “Tu não fizeste”; “Tu disseste isto, isto e ainda isto”; “Tu falhaste com o que tínhamos combinado”; “Tu não fizeste o jantar”. Ora vejamos se soa melhor: “Eu esqueci-me de pagar o infantário do menino, desculpa”; “Eu disse que ia às compras mas saí mais tarde do trabalho e não deu tempo, desculpa”; “Obrigado por teres apanhado a roupa, estava a chover e nem reparei”. Construa mais frases que se iniciem com a palavra “Eu” e menos com a palavra “Tu”. “Eu gosto de ti”, por exemplo. O julgamento emocional, a acusação, a censura, a condenação são muitos destrutivos em qualquer relação. Não se esqueça de utilizar, as vezes que forem necessárias, estas três palavras tão construtivas.

Apesar disto, é importante reter que um casal não surge, nem se constrói sem um background. Numa relação conjugal coexistem várias histórias, diferentes famílias, inúmeras vivências, regras e significados que cada elemento carrega consigo e transporta para a sua relação. Por isso é que cada relação é tão única, profunda e complexa, em que não existem regras universais, cada um participa à sua maneira na construção do seu relacionamento, num determinado tempo e espaço, procurando a satisfação conjugal.

É isto que me apaixona, a possibilidade de contribuir para a promoção do ajuste emocional aquando das interações disfuncionais. Mas o que é disfuncional e insatisfatório para uns não o será para outros. Certo é que da mesma forma que, muitas vezes, o investimento gera investimento, a insatisfação também também pode gerar insatisfação. No entanto, lembre-se sempre que “o amor nunca morre de morte natural. Morre por não sabermos como reabastecer a sua fonte” (Anais Nin). Se necessário peça ajuda de um terapeuta, mas não permita que o medo/vergonha seja superior à vontade de ser feliz na sua relação.

Lídia Oliveira

Lídia Oliveira

Apaixonada pela Psicologia no geral e pela conjugalidade em particular.