Escrevo hoje sobre um tema que me apaixona, a conjugalidade. Duas pessoas, uma relação, um conjunto de idiossincrasias, de (inter) individualidades, de (inter) dependências, de vida(s) que se querem repletas de semelhanças e diferenças, de proximidades e distâncias, de complementaridades e simetrias. A conjugalidade que implica, simultaneamente, uma identidade conjugal, sem que se percam as as respectivas identidades individuais.

Sabendo as pessoas mais próximas desta minha paixão, há uns anos ofereceram-me o livro “Os 100 segredos dos casais felizes”. Não lhes chamaria segredos mas destaco dez importantes aspectos que, sob a minha perspectiva de psicóloga clínica e de acordo com a literatura, contribuem para a satisfação conjugal. Hoje apresento-vos os primeiros cinco:

1.Hábitos conjugais saudáveis desde o início.

Queremos construir uma casa. Por onde é que devemos começar? Pelo telhado? Hum… talvez seja melhor pelos pilares. Costuma dizer-se que os alicerces se colocam no início. Nas relações podemos afirmar que a construção é semelhante e deve ser sedimentada em origens fortes, como o amor, a confiança, o respeito, o compromisso, a amizade. Se, pelo contrário, os nossos valores relacionais forem negativos não irão permitir que a relação cresça e assente numa base segura. Pensemos noutra comparação tão em voga no momento: hábitos de alimentação saudáveis. Serão mais fáceis de introduzir na alimentação de uma criança ou de uma pessoa adulta? Em qual das faixas etárias terão mais probabilidade de permanecer ao longo do tempo? Numa relação conjugal acontece o mesmo, quando mais cedo criarmos hábitos conjugais saudáveis mais fortes e duradouros eles serão. Existem mesmo estudos que revelam que sentimentos negativos no primeiro ano de uma relação podem afectar o seu desenvolvimento no futuro e comprometer a satisfação do casal face ao relacionamento. Vamos estabelecer hábitos e sentimentos positivos desde o início, afinal, não é nos primeiros tempos que tudo deve ser mágico?

2.Objectivos meus, objectivos teus, objectivos nossos. 

1+1 = 2. 1+1 = 1. Sim, as duas fórmulas podem ser aplicadas à conjugalidade. Eu e tu somos duas pessoas numa relação. Eu e tu somos um, um casal numa relação. Nas duas fórmulas temos sempre presente o “eu” e o “tu”, portanto, dois indivíduos. Mesmo estando numa relação, com uma identidade, continuamos a ser uma pessoa individual com sonhos, objectivos, metas próprias e que não são partilhadas com o “tu”. Temos os projectos comuns, os sonhos comuns, os objectivos comuns e, depois, temos tudo isto mas na dimensão individual e não apenas conjugal. A equidade apresenta-nos a importância do individual. É importante que apoiemos o nosso companheiro nos seus objectivos individuais, é importante que o nosso companheiro vibre com as nossas metas individuais. Sermos dedicados a nós não implica negligenciar a dedicação ao outro, pelo contrário. Se estamos felizes vamos tentar fazer com que o outro se sinta feliz também. E não é tão bom ficar feliz com a felicidade do outro? Quantas vezes ficamos tão ou mais radiantes pelo facto do nosso companheiro ter atingido este ou aquele objectivo? Obviamente, não podemos descartar, de todo, a importância de se cultivar interesses comuns numa relação, actividades que ambos gostem de fazer e de partilhar. Mas tal não implica que descuidemos da nossa autonomia, sobretudo quando podemos partilhar a felicidade de cada passo individual com a pessoa que contribui para a nossa felicidade em comum.

3.O conflito é inevitável. 

É certo que nunca irão concordar em tudo e ainda bem! O conflito expõe a diferença entre as pessoas, demonstra as arestas a limar, evidencia a necessidade de ceder, de negociar e é quase inevitável numa relação tão próxima. A literatura diz-nos que a forma como se resolvem os conflitos está relacionada com a satisfação e sucesso conjugal. Claro está que as estratégias de resolução de conflito que irá adoptar estão relacionadas com vários factores, que vão desde a personalidade, as influências sociais, as experiências pessoais, a forma como a nossa família de origem resolvia os conflitos… Mas, fundamentalmente, quer ganhar ou ser feliz? Será mesmo necessário ser o conjugue “always right” da díade? O que será mais importante? Ter sempre razão ou encontrar uma solução a dois? Quer ganhar todas as discussões ou ser feliz com as soluções? Apostar na segunda é apostar, simultaneamente, na partilha das nossas ideias de forma flexível e também no respeito e na tolerância pelas ideias do outro. Ceder não é perder, ter razão não é ganhar. Ser feliz, sim, é ganhar qualidade de vida e elevar o potencial da sua relação.

4.Não invista no jogo das comparações. 

Muitas vezes, em várias dimensões da nossa vida, entramos no famoso jogo das comparações. Certo é que a nossa vida não muda quando a comparamos mas a nossa maneira de a ver pode mudar. Se vemos um amigo num relacionamento, presumivelmente, perfeito, começamos a questionar o nosso. Ou, pelo contrário, se vemos um familiar numa relação, presumivelmente, problemática passamos a ter uma opinião mais positiva sobre a nossa. No entanto, a nossa relação é a nossa e deve ser vivida e avaliada com base nas suas próprias necessidades e não nas nossas percepções face às relações das pessoas que estão à nossa volta. Lembre-se que os outros falam e agem com base na sua própria experiência, não estão na nossa pele. Viva a sua relação à sua medida. Conhece a música “O marido das outras”? Ou o ditado popular “A galinha da vizinha é sempre melhor do que a minha”? Será que é mesmo? Estou certa que não.

5.O mais importante são mesmo as pequenas coisas. 

Um cliché, eu sei, mas é um clássico que faz todo o sentido quando aplicado à conjugalidade. Pense comigo. Na nossa vida temos dias maravilhosos, extraordinários, de uma felicidade estonteante. Temos outros em que experienciamos a dor imensa, a tristeza profunda, a infelicidade. Mas e nos outros dias? Aqueles dias que são bons mas não fantásticos, aqueles dias que são maus mas não horríveis, aqueles dias… normais, quotidianos, que dependem sempre da nossa perspectiva e do nome que lhe queiramos dar. São esses dias que importam porque esses dias são quase todos os dias da nossa relação. A questão reside na forma como vivemos esses dias, como são as interacções com o nosso companheiro no dia-a-dia partilhado. Às vezes, esperamos tanto que chegue o fim-de-semana que nos esquecemos de “viver” durante a semana e parece que só vamos aproveitar aqueles dois dias seguintes. Vá, dois e meio se contarmos com a sexta-feira à noite! A essência da nossa relação está presente em cada dia que a construímos e vivemos, na dedicação e partilha, no investimento e cuidado com o outro. Não vale a pena esperar apenas por aqueles dias de “conto de fadas” retratados no nosso filme preferido. Não espere, viva. A felicidade é um caminho, lembre-se disso. Viva a sua relação todos os dias do vosso caminho.

Lídia Oliveira

Lídia Oliveira

Apaixonada pela Psicologia no geral e pela conjugalidade em particular.